Nesta zona do país (que não é nos meus Algarves), vive-se muito intensamente a vida dos outros. Vive-se ainda mais intensamente o estado civil das pessoas. Assim, não obstante eu estar aqui para fazer o meu trabalho e ponto final, é raro o dia em que alguém não pergunta se sou casada ou solteira.
As formas de questionar tão pertinente facto vão desde a pergunta directa, à pergunta cheia de rodeios, à cusquice com os meus colegas.
"Então é menina ou senhora?"; "Não sei se é casada...."; "Não vejo aliança, não deve ser casada..."; "a menina que está ali é casada ou solteira?"; "a menina que veio aqui é da família de alguém aqui dentro?"
Se as perguntas viessem de homens bem apessoados, disponíveis e com idade para me fazerem filhos, eu ainda percebia este interesse. Mas como a questão surge, na sua esmagadora maioria, de mulheres na 3ª idade, já começo a ficar com comichão. Mas para que raio é que interessa tanto saber o estado civil de alguém que não conhecem de lado nenhum; de alguém que não contribui em nada para a vossa felicidade???!!
A sério, isto faz-me uma confusão do diabo. Por exemplo, eu andei dois anos a correr para o ortodontista e aquilo que menos me veio à cabeça foi se as pessoas que lá estavam a trabalhar eram solteiras, viúvas, divorciadas, relaxadas, primas, avós ou tias de quem quer que seja.
Será que as pessoas ficam preocupadas em saber o que é que uma rapariga faz no meio de tantos homens (sim, deviam esperar que se houvesse para aqui uma orgia ao fim do dia, alguém lhes fosse contar) e vai daí se ouvirem que a menina é casada ficam mais descansadinhas?! Ou então talvez se avalie as pessoas por esse detalhe e eu é que desconhecia estes costumes.
Não há pachorra e eu faço questão de dar a volta ao caso e não dar resposta directa. Mas claro está que, contrariamente a mim que devia mandar na minha própria vida, a D. Milu (o colega alcoviteiro que tenho que aguentar diariamente), faz questão de espalhar por meio mundo que eu sou a "mulher" do Ken.
Vou começar a perguntar se querem casar comigo ou se conhecem alguém interessado. E depois queixem-se do mau feitio e venham cá dizer que é por eu ser "moura".
O que é que esperam para entender a mensagem, oh prevaricadores de espaço?
Que eu desate a urinar as paredes e o mobiliário do escritório para marcar terreno?
Que vos pegue pelo braço e reproduza aquela cena do Dirty Dancing em que a Baby diz ao não-me-recordo-o-nome: "This is my dance space, that is your dance space. I don´t go to yours you don´t come to mine."?
Uma pessoa a pensar que tem cara de "metam-se na vossa vidinha" e no fim aparenta ter ar de confessionário. É um facto comprovado na minha vida! As pessoas tendem a meter conversa, fazer perguntas indiscretas e expor a sua vida pessoal como se estivessem no programa da Fátima Lopes. Mas de todas as situações pelas quais já passei, nenhuma foi tão digna de registo como a da passada terça feira no ginásio.
Uma senhora entra nos balneários imediatamente atrás de mim e após várias miradelas de soslaio (daquelas que eu tento ignorar mas algum dia sai fumo dos olhos), dispara:
- Ai (suspiro acentuadíssimo), isto cansa!
Pronto!! Adivinhei logo que isto era o mote para uma looonga conversa.
Como sempre, lá dei um sorriso e continuei na minha vidinha mas a senhora, que me analisava ao mínimo detail, não estava virada para dois dedos de treta mas sim para a realização de uma autêntica manta. Seria indecente aborrecer-vos com a descrição detalhada da conversa (mais para o monólogo) mas digo-vos apenas que teve a lata de me perguntar o peso, mencionar alguns aspectos do meu corpo, contar o seu "percurso físico" ao longo dos últimos anos e rematar com o facto de já ter cinco filhos. (esta última nem sei se percebi bem pois a dita senhora não aparentava assim tanta idade quanto isso)
Não, isto não é normal e eu não percebo o motivo pela qual não ganho o Euromilhões já que tenho tanta pontaria para situações ridículas.
Depois ficam ofendidas quando se comenta que as mulheres tal e coiso, coiso e tal umas nas outras.
Como diz a Cidália da Notícias Magazine, "Oh God, make me good, but not yet".
Alguém me explica com calma e devagarinho (pois nestas coisas eu sou muuuito lenta) qual é a razão pela qual as pessoas vão para o cinema pôr a conversa em dia ?!!!
Ora a crise é assim tanta que não dá para esperar pela hora do cafezinho? Desculpem lá, ó gente conversadora, mas há quem goste de ouvir os trailers dos outros filmes (let´s look at the trailler, get it?) e quem deteste assistir a um filme com banda sonora extra (para isso levava a minha avó comigo e estava o problema resolvido).
E a razão pela qual não se desligam os telemóveis??!! Hum? Ainda que há década e meia não soubessemos o que isso era, hoje somos "Telefonodependentes".
E há ainda quem atenda chamadas a meio do filme e grite: "Estou no cinema!", como se a pessoa do outro lado tivesse alguma culpa da burrice alheia. Dah?! Não era mais fácil DESLIGAR A PORRA DO TELEFONE ou NÃO ATENDER?!
Intitulem-me de MaRaFaDa, mas um pouco de educação nunca fez mal a ninguém.
Call me a Bitch, mas há gente muito burrinha neste país.
08h30 da matina, aproximadamente. Trabalho sossegadinha em frente ao PC.
Repentinamente, surge o colega/ patrão nº2 /stressado da casa:
C. - Psst, anda cá ver esta reportagem.
Eu - ! Estás a falar comigo?
C. - Sim, anda cá! - dito com cara de Sr. das moralidades.
Levanto-me e vou até à sala de espera. Olho para a televisão, sintonizada na RTP no noticiário da manhã. Escuto o motivo para tanto alarido (e qual será a relação com a minha pessoa?).
Eu -
Tema da reportagem: as mulheres e os problemas de saúde associados ao uso de saltos altos !
C. - Vês???
Eu - ...
Agora pergunto eu, mas o que é que o menino tem haver com a minha paixão por sapatos? Hã? Por acaso já comemos da mesma malga para estas confianças?
E porque carga de água é que um homem que nunca me viu em pelota (logo, não é meu pai nem meu "hom"), decide vir com moralidades?
Eh lá... e para onde é que o menino anda a olhar nas horas vagas... dia após dia?!?!
Temos o caldo entornado.
E pensar que no meio do de tudo isto ainda rematei:
- Mas eu hoje estou de salto raso.
Pronto, começa o calor e é sempre a mesma coisa!
Epá, faço aqui um apelo público.
Pessoal que leva uma boa vida ou já está no desejado período de férias:
Tenham pena de quem anda a trabalhar de manhã à noite, vestido com roupa de cerimónia (uns por terem a mania que são empresários - como eu - outros por obrigação), e deixem de andar a gritar aos sete ventos que "vão para a praia" ou que "vêm da praia".
Já não falo do vestirem roupa de praia em todo o lado da cidade (já deixei aqui a minha opinião sobre isso) mas do simples facto de não ser necessário ligar para o Jornal de Notícias a anunciar tal facto.
Aproveitem sim senhora, mas tenham lá compaixão pelos restantes compatriotas.
Mas o que se passa com o povo que anda doido e já não sabe o significado da palavra discrição?! Ontem à hora de almoço tive um dos momentos mais indiscretos da minha vida recente e dei por mim a pensar na Paula Bobone e em como afinal a senhora lá teria as suas razões quando decidiu escrever um livro de etiqueta.
Tudo começou na hora de almoço, no sítio do costume com o empregado do costume, com o qual já troco dois dedos de treta pois já lá vou há cerca de um ano.
Tudo corria normalmente até que o Mr. Waiter, apanhando-me desprevenida na minha 1ª semana de almoço solitário, me começa a fazer um inquério ao estilo PIDE.
- "Então não tem férias?" (pergunta que eu já acho idiota mesmo que estejamos em pleno Agosto, quando é hábito toda a minha gente se esquivar para algum lado e eu costumo trabalhar. E demais sabe ele que eu andei desaparecida durante algum tempo).
- "Ah, bem me pareceu que a vi mais morena" (dah?!)
- "E ELE também foi?" (mau!!! note-se que o ELE é o meu companheiro de almoço, que é o meu patrão, que é o companheiro de cama! - Nada de ideias erradas, eu já dormia com ele antes de ser patrão, ok?)
Apresso-me a engolir mais uma colher de sopa e lá vem o Mr. Waiter de novo.
-"E para onde foram se não é indiscrição?" (Cacete! Sim, é indiscrição e não me parece que isso interesse para a sua felicidade. Ah! E eu detesto falar da minha vida pessoal a estranhos. Claro que não disse nada disto por cordialidade e por achar que o interrogatório ía ficar por alí, além de que quando digo o que tenho vontade ficam a achar que eu sou uma grande cabra).
Mais uma rodada, mais uma aproximação SUPER low profile... not!
-"Posso perguntar-lhe em quanto ficou a viagem? Eu fui para ... e ficou por ....€". (Porra! Até queimei a língua! Mas... Eu quero lá saber para onde ele foi e quanto gastou?? E muito menos que use isso para disfarçar a atitude indiscreta que acabara de ter?!
Gaguejo!! Respiro fundo! Improviso! Invento! Penso na Bobone... abençoada senhora!
Bla Bla para aqui, Bla Bla para lá e ele decide partilhar alguns details da sua vida tais como o ter férias marcadas e ter acabado com a namorada e gostar de ter companhia para conhecer um determinado país. Oh diabo?!! Será?! Então e ele não não percebeu quando me perguntou se ELE também tinha ido? Oh Mr., olha que o "ELE" é que costuma deixar boa gorjeta!
Até que enfim acabo a sopa e peço a conta. Mas desde quando é que vir almoçar se tornou o mesmo que estar num cabeleireiro rodeado de mulherio cusco? E desde quando é que ser simpática para as pessoas significa excesso de confiança?
Acho que vou ter de lhe dizer que durmo com o patrão. Resulta sempre.
What´s wrong with you people??!!!
. Mas... "qésta" m#$d% pá?!...
. Stupid things about peopl...